quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O PENTA NO CAMPEONATO BRASILEIRO E O PARADOXO DO BESOURO


Por Moisés Basílio

         A campanha corinthiana no campeonato brasileiro de 2011 me fez lembrar um professor de física que tive no antigo segundo grau, atual ensino médio. Não me lembro com detalhes de seus argumentos, mas ele sempre mencionava o tal paradoxo do besouro quando acontecia algo que suas lógicas explicações, baseadas nas teorias da física, não funcionavam. E assim concluía: Pelas leis física da aerodinâmica o besouro também não poderia alçar vôo, mas ele voa.

         Digo isso com o coração cheio de emoção depois de vibrar em pleno Pacaembu, abraçado com meus filhos, a conquista do penta campeonato em cima do Palmeiras. Digo isso depois de ir ao estádio do Pacaembu, assistir e torcer, em todos os dezoitos jogos que o Timão jogou em sua casa. Digo isso depois de assistir a todos os jogos que foram transmitidos pela televisão, quando o Timão foi visitante. Digo isso depois de escrever uma crônica para cada jogo do Corinthians nesse campeonato.

         Pela lógica das leis do futebol o Corinthians não poderia ter se sagrado campeão brasileiro de 2011, pois embora tenha um bom time, não é o melhor time e nem tem o melhor elenco do futebol brasileiro. Uma série de acontecimentos improváveis e favoráveis ao Timão foi se juntando ao longo do campeonato. Uma sequência inicial de 93% de desempenho positivo nas primeiras dez rodadas do campeonato. Para se ter uma ideia do que isso significou basta lembrar que o Corinthians conquistou 28 pontos nessas dez primeiras rodadas, ou seja, 40% do dos 71 pontos que o fizeram campeão. Muitas vitórias de viradas, ou vitórias apertadas com placares mínimos. Jogadores limitados ou novatos, que se superaram ao longo da competição. Gols surpreendentes como os de Cachito Ramirez contra o Ceará e o de Adriano contra o Atlético Mineiro. Os melhores times dando prioridade à disputa de outros campeonatos deram chance do Timão disparar logo no início, etc.

         Mas a vida é mais do que teorias, leis e lógicas. A vida também é feita de lutas, sonhos e esperanças. E não é atoa que os corinthianos se autodenominam um bando de loucos. Para o Corinthians tudo é possível. E essa força que nasceu desse torcida de mais de 30 milhões de loucos durante o campeonato foi interagindo com o elenco de jogadores, comissão técnica e dirigentes e contagiando a campanha, e forjaram os resultados que nos deram a vitória final. O besouro voou!

         O time corinthiano se acertou durante o campeonato. A diretoria foi muito feliz nas contratações de reforços. A chegada do Emerson Sheik e do Alex foram decisivas para dar corpo e qualificar o time depois da contusão do Adriano. E a manutenção do Tite, mesmo com as pressões foi também de grande importância. 

         Vamos analisar o time campeão. Como já dizia os antigos, um bom time começa pelo gol. O goleiro Júlio Cesar é um bom goleiro e pronto. O ponto forte do nosso goleiro é a regularidade e a identificação com a torcida. O ponto fraco foi a saída do gol quando das cobranças de faltas, escanteios e cruzamentos. Teve um momento do campeonato que o time tomou muitos gols em jogada de escanteio e além dos zagueiros, vejo que o Júlio pecou muito nesse momento. O goleiro Renan, que foi contrato como um grande goleiro, caiu em desgraça depois de atuações pífias. O terceiro goleiro Danilo Fernandes, aproveitou a oportunidade e ganhou a vaga de primeiro reserva.

         A defesa do time, em números, foi a melhor defesa do campeonato sofrendo apenas 36 gols. O forte dessa defesa está no seu conjunto e não nas individualidades e também na primorosa cobertura dos volantes que formam o meio de campo, Ralf e Paulinho. Também nos atacantes que marcam no ataque e voltam para auxiliar a defesa, principalmente: William, Jorge Henrique e Danilo.  Mesmos os atacante de frente, Liedson e Sheik, foram bravos marcadores. O melhor da defesa sem dúvida foi o Leandro Castán. O Chicão caiu muito de produção e a mão do Tite foi certeira em trocá-lo pelo experiente Paulo André. O zagueiro Wallace oscilou muito entre boas e más entradas, mas manteve certa regularidade, não comprometeu o time, mostrou versatilidade, embora se mostrou muito inseguro em momento importantes.

         Ainda no setor de defesa temos os laterais. Pela direita o titular Alessandro não vive uma boa fase. Foi um bom jogador no apoio e nas assistências pela lateral, mas tem pecado muito na marcação, tem muita dificuldade no fundamento de concluir para o gol e fisicamente não está bem. O reserva Welder foi uma grata surpresa e mostrou grande potencial nesse primeiro campeonato defendendo o Mosqueteiro do Parque S. Jorge. Sempre entrou bem e não comprometeu, tem potencial. Do lado esquerdo o regular Fábio Santos jogou o feijão com arroz. Poderia ousar mais com o seu chute forte. O reserva Ramon sofreu muito com as contusões e jogou pouco.

         O meio campo foi um ponto forte do time. Os volantes titulares, Ralf forte na marcação e Paulinho que além de excelente marcador foi muito importante como um elemento surpresa na chegada à grande área e nas belas conclusões certeiras ao gol, que deram muitas vitórias ao time. O reserva Ednilson sempre entrou bem e não decepcionou. Moradei muito limitado, mas que não comprometeu quando entrou em campo e o prata da casa Bruno Octavio e praticamente não jogou|.

         Os meias de criação se não foram o brilho do campeonato, foi decisivos. Danilo com sua experiência foi o grande assistente. E Alex provou que é craque e decisivo, mesmo estando ainda num momento de readaptação ao futebol brasileiro. Morais é um jogador sem muito brilho, que não vai longe no Corinthians. Já o Cachito Ramirez, com dizem os franceses, nesse campeonato se tornou “hours concours” pelo gol de placa feito contra o Ceará.

         O ataque corinthiano não deu chabu. Mesmo em má fase nesse ano, Jorge Henrique é símbolo de raça e determinação, e se superou no jogo final contra o Palmeiras. O recém-chegado ao time, Willian não se intimidou e foi sempre decisivo com suas arrancadas velozes e fulminantes. Emerson Sheik esbanjou categoria e vontade de vencer. E o “levinho” Liedson é o oposto do que foi o nosso simpático, mas grosso e azarado, centroavante do ano passado Souza. Liedson sempre cresce nos momentos decisivos e não nega fogo. Elias e Taubaté, vindos da base, ganharam experiência. E o Adriano? Autor de um dos momentos mais emocionantes do campeonato diante do Atlético Mineiro. E só.

         E o nosso técnico Tite? Dou o braço a torcer. Confesso que durante a Libertadores, o Campeonato Paulista e o início do Brasileiro classifiquei o Tite como um charlatão. Por trás do epiteto de filósofo, dado ao técnico em muitas crônicas, estava um certo ranço de ironia. Depois a ironia foi se transformando em algo positivo e distintivo. Durante o campeonato fui entendo a lógica da “titebilidade”. Claro que pesou a máxima do pensador, fruto da criação machadiana, Quinca Borbas: “Aos vencedores as batatas”. A cada vitória do time dirigido por Tite, mais batatas para ele. E como foi o técnico que mais vitórias obteve, leva os louros da glória.

         Por fim, cabe um grande Salve para a Fiel torcida corinthiana. Nesse domingo a Fiel emudeceu durante o minuto de silêncio, com braço erguido e punho cerrado, em memória do Doutor Sócrates. Presença massiva em todos os jogos, o bando de loucos jogou com o time, sofreu com o time, comungou com o time. A mesma Fiel que sofreu no primeiro jogo do ano o prenúncio da desclassificação diante do Tolima, viu-se recompensada, no ultimo jogo do ano, ao vibrar com a conquista do pentacampeonato brasileiro numa partida eletrizante diante do Palmeiras. 

           Salve o Pentacampeonato!
           Viva Dr. Sócrates!



Números do confronto:
Corinthians 0 x 0 Palmeiras – jogo 38de38 do Brasileirão 2011.
339 jogos na história do confronto – 39 jogos no Brasileirão
Corinthians: 116 vitórias na história -11 vitórias no Brasileirão
Palmeiras: 121 vitórias na história – 13 vitória no Brasileirão
Empates: 102 na história – 15 empates no Brasileirão
Fonte: Agência Corinthians, Internet:

Curiosidades:
Súmula oficial do jogo: http://vai.la/2CUW
Borderô oficial do jogo: http://vai.la/2CUY
Vídeo dos gols: http://vai.la/2CVd
FICHA TÉCNICA – Fonte: Sítios do Terra Esporte e CBF
Domingo, 04/12/2011 às 17:00, São Paulo/SP
Corinthians 0 x 0 Palmeiras
Corinthians
Júlio César; Alessandro, Paulo André, Leandro Castán e Fábio Santos; Paulinho e Wallace; Willian (Chicão), Alex e Jorge Henrique (Moradei); Liedson (Edenílson). Técnico: Tite
Palmeiras
Deola; Cicinho (Maikon Leite), Henrique, Leandro Amaro e Gerley; Márcio Araújo e Marcos Assunção; Patrik (João Vítor), Valdivia e Luan; Ricardo Bueno (Fernandão). Técnico: Luiz Felipe Scolari
Cartões amarelos
Corinthians: Alex, Jorge Henrique, Wallace, Alessandro, Liedson e Chicão
Palmeiras: Henrique, Leandro Amaro e João Vítor
Cartões vermelhos
Corinthians: Wallace e Leandro Castán
Palmeiras: Valdivia e João Vítor
Árbitro
Wilson Luiz Seneme (SP)
Local
Estádio do Pacaembu, São Paulo (SP)